Pra que essa viagem acontecesse, dei a volta na Terra. Fui ao lugar mais distante do planeta e visitei a “Terra Média” e o “Brasil que deu certo”.
Numa jornada planejada por um ano todo, consegui conhecer a
Nova Zelândia e a Austrália, itinerário que deve ter beirado os 20 dias entre
saída e chegada. Passei o Natal na Nova Zelândia e o ano novo na Austrália.
Me lembro que uma guia turística, num passeio pelo Coliseu, falou pra um cara que estava no grupo, um australiano, que ele morava no lugar mais longe do mundo. Bom, se pra uma italiana, a Austrália é longe, para nós, ela fica, literalmente, a meio mundo de distância.
É a viagem mais longa que você pode planejar fazer. Os trechos de vôos mais demorados que se podem comprar. Dezenas de horas voando sobre o mar, um pontinho de metal sob uma imensidão de água. Entre ir e voltar, quase 4 dias sentado num avião, ou, então, esperando um avião, sentado.
Um lugar tão longínquo, que acabei por circundar o globo. Fiz um vôo até o Chile e, de lá, em sequência, outro vôo, de 13 horas, para Auckland, a capital neo-zeolandesa.
Na Nova Zelândia fui para a ilha ao sul, dali, pulei para Sidney, na Austrália, depois Melbourne e conheci a Gold Coast, na região de Brisbane. E, da cidade mais famosa da Austrália, outros dois vôos em sequência, um para a África do Sul e, por fim, São Paulo.
Sai por um lado e voltei por outro.
Lembro iniciei a volta numa sexta-feira, cheguei em Guarulhos 2 dias depois por conta do fuso, fui até a rodoviária, peguei um ônibus e vim bater em casa, no meio da madrugada, segunda feira. Às 7:30 da manhã estava indo trabalhar, como se nada tivesse acontecido. Nem consigo explicar como isso foi possível, sem cansaço, sem problemas com o fuso, nada. Apenas fiquei contente por não ter tido nenhum atraso. Eu posso me gabar de que tinha duas coisas nessa época: juventude e sorte.
Jamais encararia uma viagem dessa novamente, nos moldes em que a realizei. Foi um dos lugares que mais me senti grato por ter conhecido. Fui sabendo que dificilmente pisaria lá novamente durante minha vida. Sempre sentirei saudades e aquelas terras sempre terão um cantinho no meu coração. Que bom saber que existe um lugar como aquele no mundo.
O QUE EU POSSO DIZER SOBRE CRUZAR O MUNDO
Se eu for falar sobre viajar pra um desses dois destinos, e, viajar, eu digo como turista. Não se aplica a quem vai passar três meses fazendo curso de inglês, ou vai trabalhar, ou vai sem pressa e sem passagem de volta. Só me limito a comentar pra quem vai durante as férias, encarar os vôos seguidos, tem dias contados e precisa escolher, entre tantas coisas, o que vai poder conhecer.
Pra essas pessoas, esses seriam meus conselhos:
O primeiro e mais sábio que eu poderia dar: vá enquanto é jovem. Vá enquanto tem energia, enquanto curte esportes, aventuras, com o espírito e o corpo embalados pela juventude. Primeiro porque boa parte do seu roteiro será nessa vibe: bares com cervejas geladas e movimentados, esportes radicais de todo tipo, no mar, terra e ar. Praias ensolaradas e animadas, calor. Trilhas e escaladas em montanhas nevadas. Gente jovem nas ruas, gerenciando os negócios, indo e vindo pela cidade. Turistas e trabalhadores do mundo todo, jovens. E você vai gostar mais se tiver esse espírito. Segundo, porque chega um momento (e eu acho que esse momento chega pra todos), em que ficar 20 dias longe de casa já não é algo mais tão agradável. Seu lar ganha uma importância que torna as viagens longas – eu diria – desapaixonantes.
O segundo e até bastante óbvio: vá se tiver tempo suficiente pra isso. É longe demais pra você passar apenas uma semana lá. É caro demais pra você ficar o mínimo. Sempre terá que descontar 4 dias das férias apenas para ir e voltar. E isso se os vôos forem um seguidos do outro. No meu caso, acho que não fiquei mais que duas horas nos aeroportos entre um embarque e outro. Se você optar por pernoitar num stop-and-go, poderá levar 6 dias só em translado. Portanto, não penso que valha a pena um investimento tão grande pra se ficar menos do que duas semanas lá.
O terceiro é de que é provável que esta seja a viagem mais cara que você irá custear. Seja porque a Austrália não é barata, seja porque os vôos internacionais e nacionais terão um peso considerável no custo total. É mais difícil que se faça uma viagem pra Nova Zelândia e Austrália em momentos separados (e mereciam, sem dúvidas), e isso impacta também no orçamento.
Por muito tempo, a Austrália foi o país mais caro que eu havia visitado, até conhecer a Islândia. Ainda sim, os passeios, os arjantares nos bares animados à noite, as cervejas, nada é uma pechincha lá. Por outro lado, muito do que se faz na Nova Zelândia é caminhar e dirigir pra ver paisagens, acaba que os gastos ficam em cima dos passeios de aventura contratados, e eu fiz vários.
E o quarto é a sugestão de se considerar encaixar os dois países na mesma viagem. Sei que o clima entre eles é discrepante, e isso impacta na mala. Sei que isso implica em mais hotéis e mais vôos. Sei que isso torna a viagem mais acelerada e com itinerário mais apertado… concordo com tudo, mas, veja também por esse ponto: a Austrália é um país imenso com desertos, locais pra mergulho, cidades animadas, trilhas, parques nacionais… tudo longe. Não dá pra fazer um tour pelo país todo. A Nova Zelândia é uma ilha toda acidentada com um bloco de terras no norte e outro no sul, e cada um deles completamente diferentes do outro. Os deslocamentos por estrada não são rápidos, são para passear e não free-ways pra viajar longas distâncias. Tanto em um quanto em outro, você terá que fazer escolhas. A minha sensação final foi de que Queenstown no sul da Nova Zelândia e Sidney, são mais fáceis de serem visitadas juntas, em sequência, do que explorar as regiões mais afastadas de um país ou outro.
Dito isto, vou poder contar um pouco do que experimentei lá, começando pelo país da Terra Média, que não tinha nenhum elfo, nem rei, nem anão, infelizmente.
Por Rodrigo Okamoto