O impressionante Paque Nacional Torres del Paine no Chile

“Apreciei e padeci nos prados patagônicos do sossego mortal da neve e da tragédia inútil dos ventos, e os tenho como pátria dupla e contraditória de doçura e desolação “.
Gabriela Mistral

Acredito que o motivo que me levou a começar a fazer trekking tenha sido ficar admirando por anos as Torres del Paine no Instagram.

Possivelmente, a primeira “turista” a visitar as Torres del Paine foi a escocesa Lady Florence Dixie, com seus dois irmãos, seu marido e um amigo.   No Verão de 1878, dois meses após dar à luz seu segundo filho (que não veio na viagem), eles embarcaram rumo a Punta Arenas, às margens do Canal de Magalhães, onde compraram mantimentos e cavalos e partiram para 4 meses explorando o cone sul. Os relatos de sua viagem foram compartilhados com Charles Darwin, que esteve na região algumas décadas antes, e foram descritos no livro Across Patagonia.  Criado em 1961, o Parque Nacional Torres del Paine, é um dos lugares mais bonitos da Patagônia Chilena e recebe mais de 300.000 visitantes por ano.

Pra variar, como quase todo roteiro na Patagônia, o translado não é tão simples. A porta de entrada para o Parque Nacional Torres del Paine é a pequena cidade de Puerto Natales, muito simpática e com estrutura razoável. A melhor época é de outubro a março, no verão.

A forma mais simples de chegar a Puerto Natales é voando de Santiago até Punta Arenas e de lá, pegar um transfer de 3 horas . De Puerto Natales até o parque são mais quase 3 horas de van ou ônibus.

Outra forma de chegar a Puerto Natales seria por terra, vindo de El Calafate na Argentina, pra quem, como eu, quiser fazer os dois roteiros na mesma viagem. Mas aviso que não é perto, e a fronteira Argentina- Chile neste ponto é bem chatinha de passar, com raio x das malas, cães farejando as mochilas e inspeção alfandegária.

Chegamos em Puerto Natales já com tudo contratado pela excelente Cascada Expediciones (https://www.cascada.travel/), então fomos recepcionados na rodoviária e levados para um almoço para conhecer nosso grupo e explicações iniciais.

Duas trilhas são muito famosas no Parque, o Circuito O, realizado em 8 dias, percorrendo 145Km, dormindo geralmente em campings com pouca estrutura; e o circuito W, realizado em 4 dias e  75Km percorridos, com mais opções de hospedagem e passando pelos pontos mais bonitos do parque.

Para os não-tão-aventureiros,  também existem passeios de um dia e programas menos cansativos fisicamente. No parque há diversas opções de hospedagem como albergues (que devem ser reservados com MUITA antecedência), alguns hotéis, um hotel de luxo (Explora) e o ECOCAMP, que escolhi para ficarmos.

Admirando os quartos do hotel .

O ECOCAMP é um hotel sustentável, com mínimo impacto ambiental, e que consiste de diversos Domos Geodésicos verdes, muito aconchegantes e interligados por trilhas.

No Domo restaurante, diariamente ao final da tarde todos se encontram para tomar alguma bebida, e jantar. Antes do jantar, são dadas e explicadas as opções para o dia seguinte. Sempre há uma opção leve, uma moderada e uma mais puxada para escolher, que vão desde passeio de jipe ou cavalos com churrasco a beira do lago, navegação no lago Grey ou trekking mais longo.

As refeições são algo a parte, no café da manhã já há um espaço para montar a caixinha do almoço que será levada no passeio e já é escolhida a entrada e prato principal para o jantar. Os guias, a estrutura, a comida, tudo impecável!

Pra quem curte, pela manhã há aulas de Yoga, que segundo a Renata foi muito bacana. Preferi ficar dormindo.

No primeiro dia, optamos pelo trekking no Valle Francês, a segunda etapa do circuito W.

O primeiro trecho é feito de Van até a Guarderia Pudeto, onde pegamos um barco e navegamos por 30min até o Refugio Paine Grande, um albergue enorme, com refeitório bom e uma grande área para camping.

Atravessando o Lago Pehoé, observando o Vale Francês ao fundo e sob aquelas nuvens densas.

Dali começamos a caminhar por aproximadamente 5 horas até o acampamento Italiano. O objetivo era adentrar o vale por mais 7 Km até o acampamento Britânico, mas como estava chovendo e com pouca visibilidade, retornamos.

Chegamos a tarde e fomos tomar aquele banho merecido. Como os domos são sustentáveis, a água quente é limitada, o que me fez tomar banho gelado nos dois primeiros dias, já que entrava após a Renata lavar o cabelo. Dica: Homens, tomem banho primeiro.

O jantar foi um delicioso cerdo com batatas.

Para o segundo dia, eu gostaria de fazer a primeira etapa do Circuito W, que é a caminhada ao longo do lago Grey até o Glaciar Grey. Porém devido a distância do Hotel, não é possível sem pernoitar. Só é possível uma navegação pelo local, mas sem trekking. (Voltarei algum dia para completar circuito W). Então optamos pelo trekking na Estancia Lazo, uma  área fora do parque quase sem nenhum turista.

Maciço Paine visto de longa com as Torres no seu interior.

Caminhamos em torno de 6 horas,  todo o tempo com o maciço Paine à frente, visto de diferentes ângulos. Um dos guias, Andres, era biólogo e foi explicando várias coisas sobre a rica flora da região. Apesar do forte vento patagônico, as paisagens são maravilhosas. Destaque  para o Lago el Toro.

Lago el Toro

Para o último dia, com previsão de céu aberto, deixamos a cereja do bolo. O trekking para a tão sonhada BASE DAS TORRES, o cartão postal do parque. É uma caminhada muito linda mas bem difícil, saindo a pé desde o hotel, percorrendo em torno de 25 Km em 12 horas! O início é uma trilha por um pasto, passando pelo Hotel Las Torres, e vai subindo por um vale verde, que se transforma em uma subida cheia de pedras com e sem gelo até as torres. Mas há diversas paradas para lanches e hidratação.

Última parte da subida para a base das Torres.

A sensação de chegar na base das Torres, com um lindo céu azul, após tanto esforço foi inesquecível.

Como todo montanhista insiste em falar, o cume é apenas metade do caminho. Muitas fotos depois era hora de percorrer a interminável descida até o ECOCAMP, onde um jantar com frutos do mar e um congrio com batatas nos esperava. Tomei banho primeiro.

No dia seguinte, saímos às 4 horas da manhã para percorrer a longa distância até El Calafate, onde conheceríamos o Glaciar Perito Moreno no dia seguinte, mas isso é assunto para outro texto.

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Foto de BLOG VIAGEMLOGIA

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