Se, por um lado, a propaganda e a variedade dos esportes radicais são enormes na Nova Zelândia, por outro, existe um impressionante ativo – muito bem explorado, por sinal – que faz dela certamente uma potência no turismo mundial: as belezas naturais.
Os cenários e as paisagens são dignas de obras de arte. Ainda que existam incontáveis cenários idílicos espalhados pelo mundo, os neozeolandeses podem se gabar de que os seus foram muito bem aproveitados. As estradas passam por ângulos que enchem os olhos, as cidades não interferem nas paisagens, o turismo oferece os passeios, mas não os massifica. Tudo parece ainda manter um quê de intocado.
A Nova Zelândia certamente fez um trabalho muito bom, merece ser modelo de referência para o turismo de natureza e foi um grande privilégio testemunhar um pouquinho da preciosidade que é esse país.
Glenorchy
Além dos passeios radicais, as viagens de carro e as trilhas a pé são um outro grande chamariz. Se deslocar entre uma localidade e outra pode preencher um dia todo de passeio já que as paradas pra se apreciar as paisagens acontecem a todo momento.
Um desses trajetos, geralmente o primeiro que os turistas escolhem fazer, é conhecer o vilarejo de Glenorchy. São só 40 minutos dirigindo, mas já é um trajeto que dá a sensação de ter valido a pena atravessar o planeta. Glenorchy é uma vila de casas de campo onde os locais passam os fins de semana. É relaxante e tudo lá é bonitinho. Das fachadas das casinhas aos trailers de comida, tudo parece desenhado pra deixar a composição harmônica. Você faz refeições observando montanhas nevadas em meio a jardins bem cuidados ou anda em decks de madeira em lagos que refletem as montanhas.
É lá que ficam os sets de filmagem de O Senhor do Anéis. As empresas de turismo, com nomes bem sugestivos do tipo “Lord of Tours” ou “Middle Earth Explorers”, fazem passeios pelos cenários.
Teria sido um dia de turismo agradável não fosse a idéia do meu amigo estacionar o carro num trecho que avançava pro mar e me pedir pra tirar uma foto de muito longe. A foto virou quadro na minha casa.
Mas ele não saiu mais de lá. Tive que ir até o carro a pé, pra descobrir que o chão arenoso havia cedido e o carro estava afundando em direção ao mar. As tentativas de removê-lo fizeram com que descesse ainda mais. Era questão de tempo pra ele sair flutuando e se perder.
A frota de carros pra aluguel é limitada no aeroporto e, sendo semana de Natal, havia se esgotado. Quando desembarcamos, muitos outros turistas estavam no aeroporto sem saber o que fazer, não havia nenhum disponível, nem pra nós. Sem solução, resolvemos ir pro hotel de táxi e, no meio do trajeto, avistei uma placa de aluguel de veículos numa casa. Paramos o táxi e fomos negociar. Não queriam alugar pra turistas de jeito nenhum. Vestimos nossas auréolas e seguido de diversas recomendações, levamos o carro da família.
Dois dias depois, ele estava sendo levado pelo mar.
A Guarda Nacional apareceu pra nos resgatar. Duas picapes 4×4 e uns soldados mau-humorados que estavam num churrasco. Salvaram o carro, não sem antes um deles dar de dedo na nossa cara e dizer em alto e bom som “vocês estão arruinando o meu fim de semana e o de vocês também, não quero ver a cara de vocês aqui de novo”. Ele não nos viu mais.
Southland
Na região oeste da ilha, a cerca de 4 hs de distância, fica essa região incrível. Dá pra se passar muito tempo ali, parando o carro pra caminhar, indo até uma cachoeira lá adiante, subindo um morro pra ver mais longe, num campo aberto tirar fotos… a percepção de liberdade total é quase palpável, a natureza te deixa pequenininho. Encontram-se ciclistas, pessoas acampando, andarilhos… todo mundo vivendo uma aventura pessoal e sempre se tem uma sensação de se estar sozinho.
Tirei um dia inteiro pra viajar por essas estradas tendo como destino final um lugar chamado Milford Sound.
Milford Sound é considerado um passeio imperdível e um dos lugares mais singulares da ilha sul neozeolandesa. Encontram-se ali os fiordes, considerados únicos no mundo, onde o passeio tradicional é andar de barco por entre eles. Os paredões são imensos e em muitos deles observam-se cachoeiras que caem diretamente no mar.
O passeio dura algumas horas em barcos grandes, mas que parecem canoinhas quando se está entre formações rochosas que se erguem como gigantes de cada lado do barco. Em algumas oportunidades o barco se aproximada de quedas d’água, entra debaixo delas e molha quem está na proa. Confesso que a viagem até lá foi mais marcante do que o próprio passeio. Contudo, ocorre que eu não tinha idéia do que estava conhecendo, não tomei nota das proporções daquele acidente geográfico.
Muito depois de ter voltado é que pude assistir vídeos mostrando os fiordes vistos de cima, aí sim eu compreendi a magnitude do que havia visto de tão perto. E dei o devido valor.
NOITE DE NATAL
O gerente do hotel que estávamos, na tarde do dia 24, veio ter conosco e perguntou se já tínhamos ido ao mercado. Disse que estaria tudo fechado a partir das 18 hs. Pretendíamos cear em algum restaurante. “Não, não”, ele disse. Nenhum bar, restaurante e nem o hotel, teriam atendimentos, até depois da meia-noite, quando alguns bares abririam. Era a primeira vez que passava o Natal em viagem e me surpreendi ao descobrir que o mundo não está lá sempre disponível para o turista.
Acabamos não indo ao mercado, nem ceando. Andamos pelas ruas desertas à esmo até depois da meia-noite, com fome.
Já era bem tarde da noite quando um daqueles pubs turísticos famosos abriu e pudemos comer algo, beber, ouvir uma banda de rock tocar e ver o mundo do turismo, após uma breve pausa, voltar a girar.
Com isso eu já estava pronto pro ano-novo no lugar que mais me alegro de ter conhecido até hoje, o Brasil que deu certo: a Austrália.
Por Rodrigo Okamoto.