Cusco – Roteiro para 2 a 3 dias

Desde o período da faculdade  um amigo costumava dizer de uma trilha Inca que ia desde Cusco no Peru até Machu Picchu e essa viagem sempre ficou na minha cabeça.  Passaram-se os anos,  a mudança de cidade, nossa filha, a pandemia, diversas outras trilhas e, em maio de 2023 chegou o momento de realizar essa aventura. Para nos acompanhar escalamos um casal de amigos de Bauru, Femomeno e Roberta, já que aquele amigo que me falava da trilha não pôde se juntar a nós.

A maneira mais comum de viajar a Cusco é voando do Brasil a Lima em um voo de aproximadamente 5 horas e de LIma para Cusco em mais 1:30 de viagem.

Cusco pode ser visitada o ano todo, mas para quem deseja incluir Machu Picchu no roteiro (a grande maioria das pessoas) o ideal é programar a viagem entre os meses de maio e setembro, a temporada seca e com maior chances de céu aberto. Vale lembra que, como a maioria dos destinos, a cidade está mais cheia durante as férias de julho e início de agosto.

As temperaturas em Cusco são bastante amenas e estáveis durante o ano, com médias em torno de 10°C e oscilações entre 0-7°C de mínima e 17-20°C de máxima.

O principal feriado e data das principais festividades para o povo Inca é no dia 24 de junho ( solstício de inverno ou início do ano do Sol), quando ocorre o Festival Inti Raymi, uma boa opção pra quem deseja aprender um pouco mais da cultura Inca e não se importa com aglomerações.

–> UM POUCO DE HISTÓRIA

O nome Cusco vem do Quechua “Qosqo”, que significa “umbigo”. Os incas acreditavam que esta região era o centro do mundo. Foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e está localizada a 3.399 metros acima do nível do mar.

O povo nativo e a língua, na verdade, se chamam Quechua. Inca era o nome dado ao rei/chefe Quechua, mas o nome acabou sendo generalizado para Inca.

Diz a lenda que a cidade de Cusco foi fundada pelo Inca Manco Capac em um local indicado pelo deus Sol, que seria o centro do mundo, em um vale nos andes, rodeado de montanhas. Durante o curto período de supremacia do Império Inca, a cidade era a sua capital e local sagrado, algo como o Vaticano para os católicos ou Meca para os muçulmanos.  Estima-se que seja a cidade continuamente habitada mais antiga da América.

Apesar da rápida ascensão decorrente de uma forma de expansão que integrava a cultura dos povos dominados ao invés de subjugá-los, com a chegada dos espanhóis nas Américas,  o Império Inca teve uma curta duração, entre os anos 1438 e 1532. Em 1533, após diversas e sangrentas batalhas, o espanhol Francisco Pizarro conclamou a dominação espanhola e ordenou a construção da Catedral de Cusco na Praça das Armas, centro da cidade. Porém, desde então o povo Inca resiste e mantém sua cultura ativa e a importância cultural e política de Cusco. Da cidade, em 1911, partiu a expedição do explorador americano Hiram Bingham, que encontrou as ruínas incas de Machu Picchu (falaremos mais dele depois).  

Há uma curiosidade sobre a bandeira de Cusco. Sabendo que o Arco-íris era considerado uma das principais divindades Inca, na década de 1940 foi proposta a bandeira da cidade com as 7 cores do arco-íris e em 1978 foi instituída oficialmente. Com o crescimento do movimento LGBTQIA+, as bandeiras espalhadas pela cidade chamaram a atenção dos turistas e passavam a ideia de uma cidade liberal. Porém, trata-se de uma coincidência, já que a bandeira do movimento LGBTQIA+ tem apenas 6 cores e não tem o azul claro. Para facilitar a distinção o governo de Cusco cogitou mudar a bandeira, mas em 2021 ela foi mantida e ganhou um símbolo no centro, o Sol de Echeniche.

–> A altitude

É bastante comum sentir os efeitos da altitude assim que se aterrisa em Cusco, portanto as principais recomendação são evitar programas fisicamente ativos no primeiro dia, descansar por algumas horas ao chegar no hotel, se hidratar bastante, não comer comidas pesadas nas primeiras refeições e evitar bebidas alcoólicas (uma cervejinha Cusqueña de boas vindas não pode fazer tão mal, não é mesmo?) . Além disso, pra quem vai fazer passeios em altitudes mais elevados recomenda-se pelo menos dois a três dias de aclimatação em Cusco e subir devagar, no máximo uma elevação não superior a 500 m por dia.

Os hotéis costumam oferecer chás de coca ou de Muña ( tem gosto de hortelã) para combater os sintomas de altitude, mas apesar de todo o marketing em cima da folha e chá de coca, eles funcionam mais como hidratação mesmo e não há estudos comprovatórios dos efeitos da coca no mal de altitude.

Para saber mais sobre o mal de altitude veja esse artigo (link).

Aquela cervejinha de boas vindas, logo após o checkin no hotel.

–> Ficamos em dois hotéis em Cusco, ambos muito agradáveis e recomendados. Bem localizados próximo ao centro, com bons restaurantes e conforto.

O Novotel Cusco E o Costa del Sol WyndhamCusco.

–> O QUE FAZER NOS DIAS DE ACLIMATAÇÃO EM CUSCO ( 2 a 3 dias)

Praticamente todos os turistas que chegam a Cusco o fazem de avião, já que percorrer os 1.000Km  de curvas e penhascos que separam Lima de Cusco não é tarefa das mais simples. Apesar de não ser uma cidade pequena, possui mais de 428 mil habitantes,  os principais hotéis, comércio e restaurantes se encontram ao redor da Praça de Armas na região do Centro Histórico (a aproximadamente 6km do Aeroporto).

Cusco vista de cima e o costume que eles têm por lá de fazer desenhos nas montanhas. Foto tirada do sítio arqueológico Sacsaywaman.

Se o voo chegar a tarde uma boa opção para esta primeira tarde é uma caminhada de reconhecimento pela Praça de Armas pelas galerias ao redor cheias de lojas e restaurantes.

Catedral Basílica da Assunção da Virgem, na Praça de Armas  – teve sua construção iniciada em 1560, sobre as ruínas de um palácio Inca chamado Viracocha.

Como nosso voo chegou pela manhã, contratamos um guia local para fazer o chamado City Tour durante a tarde (Rafael Garcia – ANDEAN HIKING,  180 dólares os dois dias de passeio para 4 pessoas).

O tour começa pelo Templo do Sol (Qoricancha – centro de culto ao Deus Sol dos antigos incas), localizado no centro da cidade, de onde saíam os diversos caminhos para as outras regiões do Império. Originalmente era coberto de ouro e o principal local sagrado para os Incas, mas foi saqueado e destruído pelos espanhóis e pelos terremotos de 1650 e 1950 que destruíram parte da cidade. O valor da entrada é 15 soles (US$5,00). Apenas parte da estrutura do templo está preservada e boa parte foi reconstruída. Não há enfeites, estátuas e adornos em exposição, apenas as histórias e lendas que vão sendo contadas durante a visita guiada.  

Vista externa do Templo do Sol, tirada da Avenida El SOL, a principal avenida da cidade.

Vista interna do templo. Nessa hora a altitude ainda estava castigando a respiração.

Saímos após aproximadamente 1 hora de visita, pegamos o carro e fomos a outros quatro pontos arqueológicos ao redor da cidade de Cusco.  O primeiro foi Sacsaywaman (principal sítio arqueológico da região), muito grande e estima-se que apenas 20 a 40% está preservada. Alguns dizem que inicialmente foi construída com propósito de fortaleza militar, outros que servia como “cidade murada” aos nobres ou ainda um local cerimonial. Fato é que até hoje se questiona como estas pedras gigantescas foram parar lá em cima.

Fortaleza de Sacsaywaman

Seguimos por 5km de carro até Quenqo, um local de adoração aos Deuses e realização de sacrifícios. Mais 8km até Pucapucara, uma pequena fortaleza que imagina-se que servia como controle de estrada e terminamos o city tour em Tambomachay (templo ao Deus Água). Este último, bastante interessante com uma caminhadinha em subida até o templo das Águas, com diversas Lhamas e vendedores ambulantes no caminho.

Tambomachay, templo de adoração a água e local de descanso do Imperador Inca, onde haviam diversas fontes e aquedutos.

Aqui, já passado das 17:30, estávamos mortos da viagem e com falta de ar. Precisávamos de um banho e um bom jantar. O restaurante escolhido foi o Cicciolina (@cicciolinacusco), excelente! Localizado dentro de uma pequena galeria, no segundo andar. Tomamos um vinhos espanhol, El Coto, crianza 2018. Comemos talharim com camarão e molho de limão siciliano,  ossobuco com cebola caramelizada e pasta com ragu de cordeiro. Todos gostaram.

Para o segundo dia, acordamos cedo para o café da manhã e o nosso guia nos pegou no hotel as 7:00 para conhecermos o famoso Valle Sagrado Inca.

Mapa do circuito turístico pelo Valle Sagrado.

A primeira parada foi em Maras. Percorremos os 46Km de curvas e descidas em estrada de terra em aproximadamente 1,5 hora.

Localizada aos pés da montanha Qaqawiñay, a 3.380m de altitude, a Salinera de Maras é uma propriedade particular, onde se observam 3.000 piscinas para obtenção de sal sólido, por evaporação da água salgada.  A água drena do solo, trazendo os cristais de sal depositados durante a formação da Cordilheira dos Andes há mais de 100 milhões de anos, decorrente do choque da placa de Nascar com a placa da América do Sul.

Piscinas da Salinera de Maras

O lugar é muito legal e ver como eles trabalham é muito interessante. Como chegamos bem cedo fomos os primeiros a visitar. Pela quantidades de lojinhas e ambulantes, dá pra imaginar que próximo à hora do almoço o local fique bem lotado. Para que quiser provar, há diversas embalagens de sal e souvenirs a venda, mas obviamente o sal vendido lá é o mesmo sal do mercado de Cusco, só que mais caro.

Saindo de Maras andamos mais 8Km até Moray, um centro de experimentação agrícola Inca, que não se sabe o motivo do nome e nem sua função exata ou como foi construído… Mas é impressionante. Moray mostra o quão avançados eram esses povos peruanos. O local lembra um anfiteatro verde, em formato circular, onde cada degrau era usado como um terraço agrícola, onde cada degrau apresentava uma temperatura diferente e onde eram testados diferentes alimentos. Para os dispostos, há uma trilha para caminhar ao redor de todo o complexo e avistá-lo de diferentes ângulos.

Sítio arqueológico de Moray.

Nos 45Km que separam Moray de Ollantaytambo, nossa próxima parada, passamos por cima do Valle Sagrado e avistamos a cidade de Yanahuara, que me pareceu bem bacana para uma pernoite bem no meio do Valle Sagrado. Mas acabamos não descendo. 

Chegamos então à estrela do dia, a Fortaleza de Ollantaytambo! As ruínas de Ollantaytambo são um enorme complexo arqueológico, que contempla as famosas e magníficas escadarias sobre as montanhas, além de templos sagrados, corredores e canais de irrigação criados, em sua maioria, no período pré-inca. Localizada a 2700m de altitude, a história de Ollantaytambo foi interrompida pela invasão espanhola e, por isso, muitas construções não chegaram a ser finalizadas. O visual lá em cima é impactante, com vista privilegiada para todo o Vale Sagrado. Aqui também é impressionante imaginar a força de trabalho para carregarem esses blocos imensos de pedra até o topo da montanha para construção dos templos.

Ruínas de Ollantaytambo

Já no caminho de volta, paramos para lmoçar em Urubamba, capital do Valle Sagrado. Nosso guia nos levou no restaurante Tika Wasi, que tem um esquema de permuta com ele.  Bem razoável. Depois vi que tem bons restaurantes na cidade. Sugiro solicitar ao guia levar em algum restaurante escolhido previamente pelo Tripadvisor.

Antes de chegar de volta a Cusco, ainda paramos no mirante de Racchi (que não tem muita graça) e também no grupo de Chinchero (espécia de cooperativa Inca e centro de produção e confecção de tecidos (a lã ainda é tratada e tingida de acordo com processos muito antigos e tradicionais dos Andes). A  demostração de como os tecidos são tingidos e as raízes e produtos usados para cada cor é muito interessante. Com relação aos produtos em exposição para venda, achamos algumas coisas bem bonitas mas bastante caras, principalmente de alpacas.

Demonstração de tintura das lãs, pelo método antigo.

Chegamos a Cusco as 17 horas e fomos direto para a agência que nos levaria para a trilha Inca para a reunião e informações, afinal, no dia seguinte teria início a verdadeira aventura.  

A escolha da noite foi o restaurante El Tupay, dentro do Hotel Monasterio. Ambiente e atendimento impecáveis. Opinião pessoal, não achei que o valor condiz com a comida servida, mas foi uma noite muito agradável com os amigos.


Se você tiver mais um dia em Cusco e algum preparo físico, a Montanha Colorida pode ser uma opção interessante. São lindas as fotos da montanha colorida, mesmo com os relatos de muita gente no local, o que atrapalha um pouco as melhores fotos.

Porém, saiba que a Montanha Colorida ou Vinicunca, está a aproximadamente 2,5 horas de carro de Cusco. As empresas costumam pegar os turistas por volta das 5 horas da manhã, parar para um café simples ( sim, você vai perder o café do hotel) e seguir até o início da caminhada.

Isso mesmo, só se chega lá em cima caminhando. Para quem deseja, é possível contratar um cavalo para te levar até a 800m do local de visitação, mas a última subida será feita caminhando mesmo. Detalhe, os 6 Km de caminhada se iniciam a 4.700m de altitude e o mirante para observar a Montanha está a quase 5.100m, portanto, a falta de ar pode ser um complicador também por aqui. Costuma-se realizar a caminhada entre 1,5 e 2 horas, portanto, deve-se já estar a pelo menos 2 dias em Cusco, levar água para hidratação e alguns snacks. Não custa checar se o guia da empresa contratada tem oxigênio disponível em caso de uma emergência.

O passeio costuma retornar a Cusco no final da tarde.

Outro restaurante que gostamos muito foi o Organika. Ele é um café na frente e restaurante nos fundos. Tem boas opções de cerveja, pizzas e pratos bem servidos. Destaque para o Lomo saltado!

Agora já bem aclimatados, partiu Trilha Salkantay.

Boa Viagem!

Leonardo Fleury Orlandini
@leonardof.orlandini

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Foto de BLOG VIAGEMLOGIA

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