Austrália, O Brasil que deu certo

A Austrália foi um daqueles lugares que sempre serei grato por ter conhecido. Quando estava sentado no avião, prestes a iniciar a longa jornada de volta, fiquei olhando pela janelinha. Estava feliz por ter conhecido aquele país, triste por ter chegado a hora deixá-lo pra trás, e, provavelmente, para sempre. Também porque eu só havia comprado três pacotes de Tim Tam e estava com o último no colo. Tim Tam é um biscoito de chocolate australiano, sem equivalentes na categoria de biscoitos de chocolate.

Se visitar a Ásia é um choque – tudo tão diferente e distante da nossa realidade – visitar a Austrália é como atravessar um espelho – tudo muito mais familiar – só que melhor e mais interessante.

Fiquei cerca de 12 dias lá, mas poderiam ter sido meses, anos, o resto da vida. A Austrália é um lugar pra querer se viver pra sempre, mas, tão distante, que implicaria cortar relações e abandonar tudo que possa ter sido deixado pro lado de cá.

Foi, também, um tapa na minha cara. Eu carregava ainda a bandeira de ser parte de uma nação alegre, festiva, jovem, bonita, trabalhadora, otimista, tudo o que acreditamos nos definir como brasileiros. Lá, descobri que essas qualidades não eram exclusividade nossa e, ainda por cima, não nos tornava tão especiais assim. Se gostamos de festa, eles gostam mais. Se apreciamos o litoral, eles apreciam mais. Se temos beleza e simpatia, eles têm mais. O australiano se apresentou como uma versão melhorada do que me fazia gostar de ser brasileiro. Por isso a tristeza ao partir: eu nunca seria australiano.

Sydney

A versão do Rio de Janeiro que deu certo. Bonita, limpa, praias lotadas, barcos, calçadões, restaurantes, esportes… que lugar sensacional.

Conheci bastante do centro da cidade e fui a alguns parques. Contudo, a baía é um imã que te faz querer voltar lá sempre, em horários diferentes do dia. Existem diversos passeios de barco que podem ser feitos a partir dela. São disputados porque oferecem vários outros ângulos da ponte Harbour e da icônica Ópera de Sydney. Mas, o melhor passeio, sem dúvidas, é caminhar pela orla observando o movimento de turistas.

Se vêem muitos indianos e chineses pra todo lado, o que serve pra lembrar que, ali, nós é que somos o turista de muito longe.

A Austrália esteve envolvida em vários conflitos armados: 1ª, 2ª, guerra de Vietnã, da Coréia… logo, vários são os monumentos de homenagem aos combatentes na cidade, visitei alguns desses lugares que são, em geral, imponentes. Outro local de pereguinação turística é o Hard Rock Café com toda a memorabília mais incrível que você pode encontrar do AC/DC. Tem a catedral gótica de Sydney, que é um prédio impressionante e um dos mais antigos da cidade, construído logo no início da colonização. A estação ferroviária também é um imenso prédio dessa época. Aliás, o sistema de metrô australiano é um dos melhores que já utilizei. Seja porque é eficiente, seja porque usam pouco, o fato é que é extremamente agradável de se deslocar por lá.

Bondi Beach

Provavelmente a praia mais famosa do país, o “posto 9” carioca, da Austrália. Bondi Beach fica dentro de Sydney, mas num bairro que parece uma cidadezinha de praia de férias de verão. Aquele combo de casas residenciais, calçadão e lojinhas. Uma enorme faixa de areia e gramados, um sol pra cada sujeito branquelo e muita gente.

A água parece ter mentol, um verdadeiro mergulho refrescante num enorme mar de enxaguante bucal. Vi algo sensacional lá, um clube sobre os rochedos com uma piscina olímpica que ficava ao nível do mar, a água era abastecida pela própria maré. Estruturas construídas nas pedras para tornarem o mar acessível para as crianças, skatistas, surfistas, cachorros atrás de freesbies na água, muita gente tomando sol. Paraíso, paraíso.

O mais incrível foi ter visitado a praia no dia 31 de dezembro, no último dia de sol do ano, na praia mais famosa da maior cidade do país. Fui de metrô (a estação para literalmente em frente à praia), sem atraso, sem muvuca e saímos da praia ao pôr-do-sol, com tempo suficiente pra se programar pra virada. Em qualquer lugar no Brasil é possível que você passe a virada preso no trânsito (experimente voltar da Praia Mole em Florianópolis às 5 hs da tarde nesse dia). Ali, o retorno foi tão simples quanto a ida. Toda a logística da cidade fluindo normalmente.

Ano Novo em Sydney

Como comemoram o ano-novo 14 horas antes de nós, sempre, em algum momento, acabamos por assistir as imagens da celebração belíssima que fazem na baía. Esse espetáculo me faria estar lá, anos depois, num dia 31 de dezembro, procurando um lugar pra ver ao vivo os fogos.

A virada de ano australiana é um evento dos mais organizados. São distribuídos folders para os turistas com explicações dos horários de metrô, os locais de concentração públicos, que horas chegar e o que levar para ver os fogos.

A idéia sempre foi ver os fogos da ponte Harbour, e, providencialmente, descolamos o melhor lugar possível, inimaginável, até: embaixo dela. Existe um parque de diversões em estilo retrô chamado Luna Park, aberto a décadas, e fica em frente a ponte e a ópera. Fomos lá passear no dia 30 e descobri que eles fariam um jantar de virada de ano, com direito à festa e um deck exatamente debaixo da ponte. Os lugares disputados que sabíamos existir incluíam ficar sentado a partir das 18 hs num gramado e levar comida por conta… sem festa, sem música. Ali eu teria o melhor da Austrália com uma virada de ano mais brasileira. Fechamos uma mesa pra nós e ainda ganhamos um passe livre pros brinquedos do parque. Fui ao tromba-tromba e só, beber era mais divertido.

Já estávamos informados de que as festas iriam até as 2 da manhã apenas, não haveria bares abertos e nem bagunça na rua. O evento acontece, as pessoas comemoram e logo vão pra casa – aqui fica o ponto positivo da virada brasileira. Entram as equipes de limpeza e, às 6 horas da manhã de 1º de janeiro a cidade está como se não houvesse acontecido nada – aqui, o ponto positivo do mundo desenvolvido.

Ainda sim, é uma das melhores noites de Ano-Novo fora do Brasil que se pode ter. Em Sydney, as festas legais mesmo, são as privadas: grupos de amigos que alugam barcos ou nas casas, particulares. Eventos grandes só em hotéis ou restaurantes, com hora pra acabar.

A queima de fogos é realmente tudo que eu imaginava ser. Não tem muito o que descrever, seriam só elogios. É um evento mundial, tal qual o de Dubai ou do Rio.

Pra prolongar a festa, voltamos a pé, cidade segura, iluminada, esperávamos encontrar mais gente, mas, realmente, todo mundo vai embora cedo. É um povo notoriamente do dia.

No mais, na Austrália, o sol é perigoso (as crianças levam protetor solar como material escolar), o mar tem tubarões, o deserto é perverso, as queimadas são frequentes, sabe-se lá quantos problemas e desafios o país enfrenta, mas, acima de tudo, essa é a impressão que todo jovem que se aventura por aquelas terras pode dizer: a galera vive bem.

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